quinta-feira, 15 de junho de 2017

O filho pródigo

Sei que vocês não gostam de ler textões, mas acho que essa reflexão que escrevi vale a pena.
Seus preguiçosos!!!!





A parábola bem conhecida, que Lucas narra no capítulo 15 de seu livro, dos versículos 11 a 32, fala de um homem que tinha dois filhos. Um dia, o filho mais novo, pediu para seu pai a parte que lhe cabia da herança e sumiu no mundo. Lucas fala que ele gastou seu dinheiro de forma indevida, e que chegou a passar fome, desejando comer a comida que as pessoas davam aos porcos.
Esse, “gastou o dinheiro de forma indevida”, a gente que não é bobo, entende que o rapaz deve ter gastado com a mulherada, com bebida, jogos de azar e por aí vai.
Mas um dia, depois de sofrer um pouco com as cabeçadas da vida, esse rapaz caiu em sí e voltou pra casa do pai. No caminho ele decorou um pedido de desculpas bem convincente, mas nem precisava, porque o pai, a hora que viu seu filho voltando pra casa, ficou muito feliz, e organizou uma festa de arromba! Mandou matar um novilho e fazer um churrascão, mandou também dar roupas novas pro moço, e um anel que significava que o menino era seu filho e portanto, patrão.
O filho mais velho, quando viu o furdunço, a música, a festança, ficou com muita raiva e foi conversar com seu pai:
- Pai, - disse ele – eu trabalho pra caramba, nunca te traí, nunca fiz nada de errado e o senhor nunca me deu nem um bezerrinho pra eu fazer uma festinha com meus amigos, mas esse seu filho problemático volta do nada, e o senhor faz uma festa dessas!
- Meu filho, - respondeu o pai, entendendo a braveza de seu filho – você sempre esteve comigo, tudo que é meu é seu, você não pegou esse bezerro e não fez essa festa porque não quis, mas agora, nesse momento, eu estou feliz, porque seu irmão que estava perdido voltou!
Bom, essa aí, praticamente, é a parábola que Jesus contou e que foi narrada por Lucas. Acontece que durante esses dois mil e tantos anos, alguns teólogos dizem que essa parábola fala sobre o arrependimento e a volta pra casa, espelhada pela figura filho pródigo, e outros teólogos falam que na verdade a parábola fala de pessoas que são filhas e não desfrutam do reino de Deus, espelhada na figura do filho mais velho.
Hoje, feriado, eu estava fazendo o almoço, e pensando na minha vida e na vida do meu filho Samuel, que ainda tem 5 anos, e tentando imaginar como ele vai estar daqui a alguns anos, e de repente essa parábola me veio à mente e eu me liguei que essa parábola pode também estar falando em outra situação, que não sei se alguém já olhou por esse lado. Então pra começar a nossa curta reflexão, eu vou fazer duas perguntas, e você que é inteligente, “eu acho”, já vai sacar onde eu quero chegar.
 - Como anda o relacionamento seu com seus filhos?
- Você é o melhor amigo dos seus filhos?
Me parece, lendo e relendo a parábola, que o pai em questão amava verdadeiramente seus filhos, que ele se preocupava com eles, e que, pela alegria que ele demonstrou na volta do filho rebelde, que ele também era um pai compreensivo.
Mas, apesar dessas qualidades, ele tinha umas falhas, que a gente percebe em uma leitura mais atenta, e que são falhas corriqueiras nas nossas casas, e nas nossas famílias de hoje em dia.
Um dos filhos, não estava contente vivendo na casa do pai, pediu sua parte da herança e partiu. Oras! Mas a casa do nosso pai, não deveria ser a melhor casa do mundo? Nosso pai não deveria ser o nosso maior amigo? A gente, não deve fazer o esforço de ser o melhor amigo de nossos filhos? Ainda mais nesse mundo maligno, onde existe uma má companhia em cada esquina, querendo sugar a vida de nossos filhos?
O pai da parábola não parece tão amigo dos filhos. Ele deveria ser aquele pai, que ama os filhos, e que acha que trabalhando muito, e dando tudo de bom e do melhor para o filhos, boas roupas, brinquedos, vídeo game, escola particular, aula de inglês, judô, natação, chocolate, danone, salgadinho e bicicleta com quadro de alumínio, já está bom! Ele deveria ser daqueles pais, que nunca sentou com o filho, nunca acariciou, nunca abraçou, nunca perguntou como foi o dia do filho e se o filho já está olhando diferente pra alguma menininha. Nunca perguntou como está o coração do filho, qual são as ideias do filho, e por fim, nunca disse ao filho: - Pode contar comigo! Eu sou seu melhor amigo!
O pai da parábola, foi inconsequente quando deu metade da herança pra um filho descabeceado, e o deixou partir pelo mundo com todo dinheiro, correndo até risco de morte. Um pai de verdade deveria conhecer o filho. Deveria saber que seu filho não estava preparado para fazer o que fez, e não poderia deixar isso acontecer.
Mas a parte do texto que mais demonstra que esse pai, apesar de amar seus filhos, não era um pai amoroso, é a resposta que ele dá ao filho mais velho, quando esse reclama que sempre foi um bom filho, e nem um bezerrinho o pai o deu pra fazer uma festinha com a galera.
O pai responde: - Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu!
Olha que absurdo! O menino se sentia um escravo do pai, um serviçal, ele não se sentia dono de tudo como o pai falou, “tudo o que tenho é seu”, e sabe por que? Porque o pai nunca disse nada disso ao filho. Nunca agiu com amizade, nunca sentou com o filho e disse que ele estava alí para segurar qualquer bronca! Nunca disse ao filho, que tudo o que era dele, também era do filho. Eles não eram amigos de verdade. O pai era um provedor na casa, e as provisões, para ele, eram a forma de demonstrar amor.
O filho por sua vez, demonstrou carência afetiva, tanto na revolta contra o irmão mais velho, quanto na revolta com o pai.
Amigos, dar tudo de bom e de melhor para nossa família é uma coisa boa, mas dar carinho, amizade verdadeira, amor e companheirismo, isso é melhor que qualquer bem. Porque os bens acabam, mas o amor de pai e filho, de marido e mulher, de família unida, esse amor dura para sempre.
Então, pra terminar a nossa reflexão, eu volto a fazer aquelas duas perguntas:
- Como anda o relacionamento seu com seus filhos?
- Você é o melhor amigo dos seus filhos?
A Bíblia é rica e viva! Um mesmo texto pode falar com a gente de diversas maneiras, e esse texto, tão batido e conhecido, hoje falou comigo dessa maneira.
Pense nisso!







6 comentários:

  1. Que coincidência André. Ontem lembrei de si, senti saudades das suas postagens e das suas visitas virtuais. Tanto que estando a escrever uma nova história, e à procura do nome do personagem masculino, um homem meio português meio italiano, escolhi André ferreira Angeloni.
    Adiante...
    Estou quase de acordo consigo. E digo quase, porque embora entendendo que um pai deve ser um grande amigo do filho, ele nunca em momento algum se deve esquecer de que é pai. Porque nós não temos por um amigo o mesmo respeito que temos por um pai, e não lhe admitimos a autoridade que um pai tem que exercer em certas situações da vida. Ou será que estou enganada. Vejamos, a minha mãe, talvez por deficiência na sua educação, talvez pela vida dura que teve desde os seis anos de idade, nunca foi uma mulher carinhosa, nunca se mostrou amiga. Não é que ela não nos amasse, e muito. Mas só em condições extremas deixava passar um pouco de emoção. Era bem menina, quando jurei que seria o oposto dela. E fui-o. Mas também não resulta. Na maioria das vezes, quando precisava ser dura, ele não me acatava. E então entrava em cena, o pai, que era militar, e que o punha em sentido como se estivesse numa parada. E hoje ele terá talvez a sua idade ou perto disso. Tem 37 anos. E todas as dificuldades que enfrenta no dia a dia, (ganha pouco, e quase todos os meses, sobram dias ao ordenado, a vida está difícil) vem desabafar comigo e pedir-me ajuda. Com o pai, brinca, fala de futebol, do trabalho, mas nunca passa disso.
    Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que apareceu Elvira, eu estava com saudade!
      Obrigado pelo comentário.

      Excluir
  2. Que beleza trazer esse texto, essa parábola,André! Nada é melhor do que estar bem com a família e filhos... Os meus estão todos adultos e continuamos a ter bom relacionamento. Faz bem! abração,tudo de bom,chica

    ResponderExcluir
  3. Amigo, maravilhado com o teu espaço, tua cara de bonachão, o nome despretensioso e gozador do blog e estarrecido com o lado que refletiste sobre a parábola. Sou meio rebelde, sem a crença do Jó, mas estudei em colégio católico, sou irmão de uma irmandade secular e sigo a fé sem muita fé como "Caótico Apostatado Romântico". Isso posto, digo que igual a ti, eu também já havia notado que o cara aquele foi um tanso danado. Se um dos meus filhos quisesse meu dinheiro, eu o diria: Vai trabalhar, vagabundo - eu não morri ainda! E diferente dele, eu bebo uma taça de vinho com meus filhos e me abro. Tu escreves muito bem, sem a pretensão de impressionar e sem empolamento. Parabéns, Andrezão! Voltarei muitas vezes. Meu abraço fraterno. Laerte.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Laerte!
      Como é bom fazer novos amigos na blogosfera!

      Excluir

Obrigado pela sua visita e pelo seu comentário, volte sempre!